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Chiquinha Gonzaga em 1932. http://revistapiaui.estadao.com.br/ |
Há 80 anos falecia a maestrina e compositora Francisca Gonzaga, mais conhecida por Chiquinha Gonzaga.
Nascida em 17 de outubro de 1847, no
Rio de Janeiro, ela faleceria em 28 de fevereiro de 1935, em pleno carnaval.
Chiquinha Gonzaga não
figura somente como uma compositora de sucesso, mãe da nossa música popular
brasileira, mas, também como uma mulher que lutou por seus direitos e sonhos em
uma época em que a sociedade era predominantemente patriarcal e à mulher cabia
somente o papel de ficar à sombra de seus maridos. O preço que ela pagou foi
muito alto, mas, serviu de exemplo para que outras mulheres, suas contemporâneas
ou não, também saíssem da prisão que a sociedade lhes impunha.
Com mais de oitenta
anos, Chiquinha Gonzaga continuava a compor e a trabalhar em prol dos direitos
dos compositores. Durante toda sua fascinante vida, ela se viu cercada por
personagens célebres e muitas mulheres que trabalhavam em teatro cantando e
dançando suas músicas ou gravando suas composições em discos.
Foi pensando nisso
que eu trouxe uma cantora contemporânea da maestrina chamada Odette. Conhecida
em discos como Senhorita Odette, ela seria a primeira mulher a gravar no Brasil
e na América Latina. Até agora, nenhum pesquisador encontrou nada a respeito de
quem seria essa intérprete ou mesmo alguma fotografia sua. Encontrei o nome
Odette em peças do período de 1901 a 1904, algumas em francês, mas, não tem
como associar as duas pessoas, pois, não havia qualquer menção de discos.
De 1903 a 1904, foram
lançados vários discos de Senhorita Odette, entre eles algumas composições de
Chiquinha Gonzaga, que musicara versos de poetas e dramaturgos, como
Casimiro de Abreu, Palhares Ribeiro e Francisco Sodré. São quatro composições inspiradas e belas, que retratam o romantismo da segunda metade do século XIX. Com o surgimento da indústria fonográfica em 1902, foi possível registrar em cera muitas músicas que fizeram sucesso no século anterior.
Nesse link http://zip.net/bjmCZT, você confere os jornais de 01 de março de 1935 que falaram sobre Chiquinha Gonzaga.
Eis as músicas e suas gravações, com letras.
Todas foram gravadas por Senhorita Odette.
Manhã de Amor, foi publicada em 1881 para canto e piano por Arthur Napoleão e Cia., na série Canto Português - Coleção de Romances, Modinhas, Lundus, etc. Trata-se de uma bonita valsa com versos de C. C.
Côrte na Roça, foi composta em 1884 e fez parte da burleta A Côrte na Roça, de Palhares Ribeiro, que estreou em 1885 no Theatro Príncipe Imperial, no Rio de Janeiro. Foi a primeira vez que uma mulher, Chiquinha Gonzaga, musicava uma peça teatral. A gravação que trazemos é da balada, ou valsa, para canto e piano que encantou público e crítica naquele longínquo 1885, mas, que ainda deslumbra. O autor dos versos é Francisco Sodré. Essa valsa fazia parte do repertório da atriz-cantora Plácida dos Santos.
Poesia e Amor, um lindo e melancólico poema de Casimiro de Abreu escrito na fazenda de seu pai, chamada de Indaiassú (depois passou a ser a cidade de Indaiaçú, atual Casimiro de Abreu, no Rio de Janeiro) em 1857 e lançado no livro Primaveras, em 1859.
Chiquinha Gonzaga colocaria músicas nesses versos em 1888, conservando o mesmo título de Poesia e Amor.
Beijos, valsa publicada em 1899, como romance, por Manual Antônio Guimarães. fazia parte do repertório de Plácida dos Santos. Os versos são de Luiz Murat e Alfredo de Souza.
Nesse link http://zip.net/bjmCZT, você confere os jornais de 01 de março de 1935 que falaram sobre Chiquinha Gonzaga.
Eis as músicas e suas gravações, com letras.
Todas foram gravadas por Senhorita Odette.
Manhã de Amor, foi publicada em 1881 para canto e piano por Arthur Napoleão e Cia., na série Canto Português - Coleção de Romances, Modinhas, Lundus, etc. Trata-se de uma bonita valsa com versos de C. C.
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Selo do disco Manhã de Amor. Não aparece o nome de Chiquinha Gonzaga como autora. Arquivo Nirez |
Côrte na Roça, foi composta em 1884 e fez parte da burleta A Côrte na Roça, de Palhares Ribeiro, que estreou em 1885 no Theatro Príncipe Imperial, no Rio de Janeiro. Foi a primeira vez que uma mulher, Chiquinha Gonzaga, musicava uma peça teatral. A gravação que trazemos é da balada, ou valsa, para canto e piano que encantou público e crítica naquele longínquo 1885, mas, que ainda deslumbra. O autor dos versos é Francisco Sodré. Essa valsa fazia parte do repertório da atriz-cantora Plácida dos Santos.
Poesia e Amor, um lindo e melancólico poema de Casimiro de Abreu escrito na fazenda de seu pai, chamada de Indaiassú (depois passou a ser a cidade de Indaiaçú, atual Casimiro de Abreu, no Rio de Janeiro) em 1857 e lançado no livro Primaveras, em 1859.
Chiquinha Gonzaga colocaria músicas nesses versos em 1888, conservando o mesmo título de Poesia e Amor.
Beijos, valsa publicada em 1899, como romance, por Manual Antônio Guimarães. fazia parte do repertório de Plácida dos Santos. Os versos são de Luiz Murat e Alfredo de Souza.
MANHÃ DE AMOR
Disco Zon-O-Phone X-699
Matriz X-699 II
Lá vem a
nuvem dourada
Erguendo-se no
horizonte
Não tarda que a
madrugada
Após a nuvem
desponte
Ah! Entre o amor e
o desejo
Vem o dia do
intervalo
Só posso te dar um
beijo
Não ouves cantar o
galo
Olha, não vás, um
beijo mais
Deixa morena nos
teus lábios dar
Oh! bela esquiva
deixa que eu viva
O galo canta,
deixá-lo cantar!
Da noite rasgou-se
o véu
Desfez-se a grata
ilusão!
Nenhuma estrela no
céu
De amor findou-se a
canção
Ah! Adeus, adeus aí
vem o sol
Dourando as águas
do mar!
São horas! Olha o
arrebol…
Lá torna o galo a
cantar!
Olha, não vás, um
beijo mais…
Deixa morena nos
teus lábios dar
Ó bela esquiva
deixa que eu viva
O galo canta
deixá-lo cantar!
Das aves começa o
canto
No jardim acorda a
flor
Quebrou-se o mágico
encanto
Da nossa manhã de
amor
Ah! Toma é o último
beijo
Deste amoroso
intervalo
Esperemos outro
ensejo
Adeus! que lá canta
o galo!
CÔRTE NA ROÇA
Disco Zon-O-Phone X-702
1
Esse teu leque
formoso
De luz e perfume
cheio,
É o beija-flor
cauteloso
A esvoaçar em teu
seio!
Este calor que tu
sentes,
Que te escalda o
coração,
São os sintomas
ardentes
De uma impetuosa paixão!
Ah! Ah! São os
sintomas ardentes,
Ah! Ah! De uma
impetuosa paixão
2
Este sorriso que
implora
Que apurpura os
lábios teus,
É uma restea da
aurora
De outro azul e de
outros céus.
Há no teu colo
tremente
O mesmo encanto da
flor.
Guarda esse leque
explendente,
Meu primeiro e
santo amor!
3
Meu coração não se
acalma,
Não cessa de te
adorar.
Deixa abrasar a
minh’alma
Nas chamas do teu
olhar.
Não temas não há
perigo,
Por que te
assustas, meu anjo?
Leva minh’alma
contigo,
Solta as tuas asas
arcanjo.
POESIA E AMOR
Disco Zon-O-Phone X-705
Senhorita Odette gravou somente as estrofes 1,4, e 5.
1.
A tarde que expira,
A flor que suspira,
O canto da lira,
Da lua o clarão;
Dos mares na raia
A luz que desmaia,
E as ondas na praia
Lambendo-lhe o
chão;
Da noite a harmonia
Melhor que a do
dia,
E a viva ardentia
Das águas do mar;
A virgem incauta,
As vozes da flauta,
E o canto do nauta
Chorando o seu lar;
2.
Os tremulos lumes,
Da fonte os
queixumes,
E os meigos perfumes
Que solta o vergel;
As noites
brilhantes,
E os doces
instantes
Dos noivos amantes
Na lua de mel;
Do tempo nas naves
As notas suaves,
E o trino das aves
Saudando o arrebol;
As tardes estivas,
E as rosas lascivas
Erguendo-se altivas
Aos raios do sol;
3.
A gota de orvalho
Tremendo no galho
Do velho carvalho
Nas folhas do ingá;
O bater do seio,
Dos bosques no meio
O doce gorgeio
D’algum sabiá;
A orfã que chora,
A flor que se cora
Aos raios da
aurora,
No albor da manhã;
Os sonhos eternos,
Os gozos mais ternos,
Os beijos maternos
E as vozes de irmã;
4.
O sino da torre
Carpindo quem
morre;
E o rio que corre
Banhando o chorão;
O triste que vela
Cantando a donzela
A trova singela
Do seu coração;
A luz da alvorada
E a nuvem dourada
Qual berço de fada
Num céu todo azul;
No lago e nos
brejos
Os férvidos beijos
E os loucos bafejos
Das brisas do sul;
5.
Toda essa ternura
Que a rica natura
Soletra e murmura
Nos hálitos seus,
Da terra os
encantos,
Das noites os
prantos,
São hinos, são
cantos
Que sobem a Deus!
Os trêmulos lumes
Da veiga os
perfumes,
Da fonte os
queixumes,
Dos prados a flor,
Do mar a ardentia
Da noite a
harmonia,
Tudo isso é –
poesia!
Tudo isso é – amor!
BEIJOS
Disco Zon-O-Phone X-696
Nossos desejos são
brasas
Ai! Pomba, não
sejas louca
Se os beijos
tivessem asas
Andavam de boca em
boca
Que lindo enxame
dourado
Quanto lábio
nacarado
Não tremeria ao
adejo
De um beijo
Não temas! Geme o
piano
Ai! Flor, e ele
geme tanto:
Em cada nota um
arcano
E uma prece em cada
pranto
E esse pranto e tão
doce
É leve, como se
fosse
O brando e trepido
adejo
De um beijo
Não temas, flor, os
desejos
Que minha alma
ardente esflora
Dá-me os teus
beijos, teus beijos
Tem os fulgores
d’aurora
Vês meu peito em
pranto imerso
Vôa ao céu, astro,
ao teu berço!
Remonta em trêmulo
adejo
Como um beijo
Fontes:
Arquivo Nirez
Arquivo Marcelo Bonavides
Site Chiquinha Gonzaga: http://www.chiquinhagonzaga.com/
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