Há 176 anos, no dia
06 de agosto de 1841 (há fontes que apontam o dia 05 de setembro), nascia o
ator, compositor e cantor Xisto Bahia, uma dos maiores artistas que já tivemos.
Xisto de Paula Bahia nasceu em Salvador, na Freguesia de Além do
Carmo. Era filho do major do Exército Francisco de Paula Bahia e de D. Tereza
de Jesus Maria do Sacramento Bahia. Era o caçula dos irmãos Soter, Francisco
bento, Horácio e Eulália.
Como Xisto Bahia ele entraria para a história da MPB
como o autor da primeira música lançada em disco no Brasil, o lundu Isto é Bom,
também conhecida como Yayá você quer morrer?, composta por volta de
1857 e que foi levada à cera em 1902 pelo cantor Bahiano (Manuel Pedro dos
Santos), que também era baiano.
Porém, o legado de
Xisto Bahia foi bem maior. Além, de ator, compositor e cantor, ele também era
violinista, violonista e dramaturgo.
Em 1861,
excursionou pelo norte e nordeste do Brasil, cantando modinhas, e lundus,
tocando violão.
O dramaturgo Arthur
Azevedo o considerava o ator mais nacional que tivemos. Aliás, foi em uma peça
de Arthur, Uma Véspera de Reis, que Xisto obteve um de seus maiores
êxitos como ator.
Em 1880, D. Pedro
II o aplaudiu na peça Os perigos do coronel.
Durante o ano de
1881, foi escrevente penitenciário em Niterói (RJ).
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Jornal O Paiz, sábado, 29 de janeiro de 1887. Biblioteca Nacional. |
A peça O Carioca, da autoria de Arthur Azevedo e
Moreira Sampaio, estreou
no Imperial Theatro Dom Pedro II, em 31 de dezembro de 1886, sendo a revista
desse mesmo ano.
Para
quem não está familiarizado, a palavra revista, empregada nessa postagem, se
refere à peça de Teatro de Revista, às Revistas de Ano,
que eram populares no final do século XIX e que eram uma revisão através de uma
peça dos acontecimentos do ano que terminava. Quando formos nos referir à
revistas de papel usaremos o termo periódico, que também pode se
referir a um jornal, assim evitaremos maiores confusões.
No
elenco estavam Cinira Polônio, Francisco Correia Vasques, Rose Villiot, Antonio
Joaquim de Mattos, a célebre atriz do Alcazar Lyrico Delmary, a famosa Adelaide
do Amaral (que rivalizava nos palcos com Eugênia Câmara), Aurélia Delorme,
entre outros e, com destaque, Xisto Bahia.
Esse
elenco era formado por alguns dos maiores nomes do meio teatral da época.
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Xisto Bahia |
Foi casado com a atriz portuguesa Maria Vitorina de Lacerda Bahia,
com quem teve quatro filhos.
Durante
o Segundo Reinado, suas modinhas e lundus se tornaram célebres. Podemos
destacar o poema de Plínio de Lima, Ainda e Sempre (Quis debalde
varrer-te da memória), que ele musicou; bem como o excelente lundu A
Mulata (Mulata Vaidosa), Preta Mina.
Xisto
Bahia faleceu em Caxambu, em uma terça-feira, a 30 de outubro de 1894.
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Jornal O Paiz, quarta-feira, 31 de outubro de 1894. Biblioteca Nacional. |
Em 1895 foi criado o periódico Xisto
Bahia, provavelmente para ajudar a viúva e seus filhos, que ficaram em extrema
pobreza.
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Texto teatral de Xisto Bahia, 1893. |
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Capa manuscrita da peça Uma véspera de Reis, 1882. |
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Xisto Bahia caracterizado como Bermudes, em Uma Véspera de Reis (1875), de Arthur Azevedo. Foi um de seus maiores sucessos no teatro. Almanaque d´O Theatro, 1907. |
Confiram as composições de Xisto Bahia que foram gravadas na
primeira década do século XX:
ISTO É BOM (YAYÁ VOCÊ QUER MORRER?)
Como já
dissemos, Isto é Bom foi a primeira música lançada em disco no Brasil, isso porque no selo do disco a numeração vem como 10.001, no
primeiro suplemento de chapas para gramofones (discos 78 rpm) lançado ao
mercado. A gravação foi feita na Casa Edison, do Rio de Janeiro, de propriedade
de Frederico (Fred) Figner, em 1902 e o disco foi impresso na Alemanha sob o
selo Zon-O-Phone. Coube ao então cançonetista de sucesso, Bahiano (Manuel Pedro
dos Santos) fazer uma série de gravações para serem lançadas em discos, cabendo
a Isto é Bom receber a numeração 10.001. No ano seguinte, saia
no mercado um novo lote de discos Zon -O-Phone gravados por Bahiano; entre
eles, o de número X-1.031, que foi gravado em 1902, mas lançado em 1903. Pode
ser uma nova gravação do lundu de Xisto Bahia ou um relançamento da gravação
original (a que saiu na chapa pioneira). Chegou aos nossos dias, por enquanto,
o disco X-1031, de 1903; ou seja, Bahiano interpreta a primeira música gravada
no Brasil, mas, pode ou não ser a gravação pioneira. Ainda não surgiu provas
que confirmem uma ou outra versão. Podemos observar nessas gravações de 1902 e
1903 um constante acompanhamento de piano, que era o instrumento indispensável
onde se pensasse em fazer música. Dessa forma, podemos ter uma
boa ideia de como seriam os saraus de outrora, como era a
interpretação dos cantores, a forma de dizer as gírias, soltar os chistes e
cantar o lundu. Teremos uma outra forma de interpretar ao ouvirmos Eduardo das
Neves com seu violão.
Daí,
saímos dos salões para irmos às rodas de serenatas, onde o violão era o
destaque. A interpretação, mais solta, mais despreocupada, nos mostra como os
boêmios e chorões executavam suas músicas, atraindo a atenção dos presentes aos
lundus e modinhas dos tempos do Império e dos primeiros anos da República.
É uma
viagem no tempo, onde vozes, instrumentos e interpretações nos remetem a um
tempo onde se faziam choros nas calçadas, onde podíamos topar na rua com algum
célebre compositor de polcas ou cançonetas e a vida passava no compasso de um
chorinho dos velhos tempos. O convite está feito!
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Yayá você quer morrer? |
ISTO É BOM
Lundu cantado por Bahiano
Acompanhamento de piano
Gravação de 1903
Disco Zon-O-Phone X-1.031
Gravado em 1902 e lançado em 1903
ISTO É BOM
Lundu gravado por Eduardo das Neves
Acompanhamento de violão
Disco Odeon Record 108.076, matriz XR-607
Lançado em 1907
Eduardo chega a comentar na gravação: Ah, isso me lembra do tempo
do Xisto Bahia!
E depois: Meu Deus, que festa no tempo do seu Xisto!
Isto é Bom também foi gravado por Vanja Orico em duas ocasiões, em 1953
e 1955, com o título de Yayá
vancê quer morrer?
IAIÁ VANCÊ QUER MORRER?
Lundu
Gravado por Vanja Orico
Acompanhamento de Orquestra
Disco RCA Victor 80-1245-A, matriz BE3-VB-0295
IAIÁ VANCÊ QUER MORRER?
Toada (assim veio no selo do disco)
Gravada por Vanja Orico
Acompanhamento de Conjunto e Coro
Disco Sinter 00-00.396-B, matriz S-876
Lançado em maio/junho de 1955
QUE VALEM FLORE?
Modinha
de Xisto Bahia em interpretação de Geraldo Magalhães.
Disco
Odeon Record 40.567
Acompanhamento
de
Lançado
em 1905
AINDA E SEMPRE (QUIS DEBALDE VARRER-TE DA MEMÓRIA)
Uma
belíssima e sentida modinha, com letra do poeta baiano, de Caetité, Plínio de
Lima (1845-1873),
que foi
musicada por Xisto Bahia. Fez muito sucesso na virada do século XIX para o XX.
Foi
gravada por Mário Pinheiro em 1909.
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Plínio de Lima |
Capas de partituras de Ainda e Sempre
(Quiz debalde varrer-te da memória)
AINDA E SEMPRE (QUIS DEBALDE VARRER-TE DA MEMÓRIA)
Canção
de Xisto Bahia e Plínio de Lima
Gravada
por Mário Pinheiro
Acompanhamento
de piano
Disco
Odeon Record 108.222, matriz XR-759
Lançado
em 1909MULATA VAIDOSA
Esse é
um delicioso lundu com versos de Mello de Moraes Filho que Xisto Bahia musicou.
Retrata
a mulata como personagem sensual.
Provavelmente
foi cantado por atrizes em teatros ou cafés-concertos. Porém só homens gravaram
no período do 78 rpm, e todos na década de 1900. É curioso isso, uma vez que
algumas composições com versos femininos foram gravadas por homens.
Aqui,
temos Mário Pinheiro cantando com desenvoltura. Em certo momento da gravação
ele brinca e diz: Até virei mulata, calcula?!
MULATA VAIDOSA
Tango
(Lundu) de Xisto Bahia
Gravado
por Mário Pinheiro
Acompanhamento
de violão
Disco
Victor Record 98.971
Lançado
em 1910
Encontrei dois vídeos com interpretações dessa música. Em um
deles, o grupo Quadro Antiquo interpreta Mulata
Vaidosa, também conhecida como A Mulata.
No
outro, apenas gravação, temos o grupo Lira D´Orfeo.
É uma
boa oportunidade de vermos o lundu interpretado por duas cantora em sua forma
original, embora com interpretações diferentes.
Quadro Antiquo
Percussão
- Kristina Augustin
Flauta
doce - Mario Orlando
Canto -
Sonia Wegenast
Violão -
Rosiamery P. Gomes
Concerto
no Museu da Imagem e Som (MIS) Maceio- (AL).
Março de
2009
Confiram: http://youtu.be/jtV-NU50q4s
Lira D'Orfeo
Intérprete: Rosemeire Moreira
Confiram: http://youtu.be/Jhaiubs5cE8
O PESCADOR
Lundu
que fez parte da peça O Homem, estreada no Theatro Lucinda (ou Éden
Dramático), o primeiro teatro do Rio de Janeiro a instalar iluminação elétrica,
em 03 de janeiro de 1888, que era uma revista do ano de 1887. Da autoria de
Arthur Azevedo e Moreira Sampaio, era baseada também no
romance homônimo do irmão de Arthur, Aluísio de Azevedo. No elenco,
ao lado de Xisto Bahia, Machado Careca, Cinira Polônio, Blanche Grau, Antônio
Joaquim de Mattos, Anna Manarezzi, entre outros.
A música
é uma interessante crônica/crítica à pescaria em sempre em
voga, ou seja, a pratica de as pessoas darem-se bem ou arranjarem-se como
podem, sejam nos negócios ou nas relações pessoais.
O PESCADOR
Lundu de
Xisto Bahia
Gravado
por Eduardo das Neves
Acompanhamento
de Violão
Disco
Odeon Record 108.710, matriz XR-1353
Gravado
em 1912 e lançado em 1913
O Pescador também foi gravado pela cantora Maria Martha, acompanhada por Raphael Rabello, Luciana Rabello e Celsinho, em 1978.
PRETA MINA
Lundu de
Xisto Bahia que teve várias gravações.
O
interessante é que no disco a o ritmo vem como modinha, polca e
até tango. Vale lembrar que na virada do século XIX para o XX a
palavra tango ou tango brasileiro significava
maxixes ou lundus. Uma forma que o compositor Ernesto Nazareth e outros
colegas, como Chiquinha Gonzaga e Nicolino Milano, usavam para que suas
melodias populares pudessem entrar em casas de família.
Preta Mina
Polca de
Xisto Bahia
Gravado
pela Banda da Casa Edison
Disco
Odeon Record 10.048, matriz R-197
Lançado
em 1904
Preta
Mina
Modinha
de Xisto Bahia
Gravado
por Mário Pinheiro
Disco
Odeon Record 40.406
Lançado
em 1905
Preta
mina
Tango de
Xisto Bahia
Gravado
por Luís de Oliveira
Acompanhamento
de violão
Disco
Victor Record 98.799
Lançado
em 1909
QUE SORTE, QUE SINA
Gravado por Barros (João Barros)
Disco Odeon Record 40.193, matriz RX-204
Lançado em 1906
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O RIO NÚ (sic) 22 de abril de 1899 http://memoria.bn.br |
Agradecimento ao Arquivo Nirez
Fontes:
fotos
Arquivo Nirez
Biblioteca Nacional (http://hemerotecadigital.bn.br/o-paiz/178691)
http://www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/index.php?titulo=Xisto+Bahia<r=X&id_perso=711
http://www.flickr.com/photos/cifrantiga/119894073/sizes/l/in/photostream/
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/historia-do-carnaval/xisto-bahia-2.php
http://www.nemus.ufba.br/artigos/imb.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pl%C3%ADnio_de_Lima
Videos
http://www.youtube.com/watch?v=jtV-NU50q4s&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=Jhaiubs5cE8
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