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MISSA CAMPAL DE 17 DE MAIO DE 1888 Fotografia de Antonio Luiz Ferreira http://brasilianafotografica.bn.br/?page_id=736 |
Há exatos 132 anos
acontecia a Missa Campal celebrada em ação de graça pela Abolição da Escravidão
no Brasil.
O evento ocorreu em
17 de maio de 1888, também em um domingo, no Campo de São Cristóvão, no Rio de
Janeiro.
Em 2015 fizemos uma
postagem sobre o evento: https://bit.ly/2X8gTfq
O EVENTO
Dias antes, em 13 de
maio, a Princesa Imperial Regente, D. Isabel, havia assinado a Lei Áurea, que
extinguia a escravidão no país.
A fotografia da Missa
Campal foi feita do alto pelo fotógrafo Antonio Luiz Ferreira, e é possível ter
uma ampla vista do campo lotado de pessoas. Em um pequeno palanque decorado, à
esquerda da foto, no lado de cima, está a Princesa Isabel e seu esposo, o Conde
D´Eu.
O site Brasiliana
Fotografia, ligado à Biblioteca Nacional, conseguiu identificar, ampliando a
fotografia, o escritor Machado de Assis e o jornalista José do Patrocínio,
junto de seu filho, o futuro dramaturgo José do Patrocínio Filho, aos três
anos. Eles estavam bem próximos à princesa. Todas essas fotografias são do site http://brasilianafotografica.bn.br/?page_id=736 ,
que apresenta um interessante artigo sobre a imagem e a descoberta dos
integrantes ilustres.
Após a missa, José do
Patrocínio convidou seu amigo Machado de Assis (que fora em sua companhia ao
evento) para almoçar em sua casa. As demais integrantes do palanque foram a um
almoço festivo no Internato do Colégio Pedro II.
A fotografia de Antonio Luiz Ferreira, além de ser um documento
histórico de grande valor, é um registro impressionante de pessoas e seus
rostos. Vemos pessoas negras e brancas juntas e comemorando o fim de uma grande
vergonha nacional, a escravidão. Alguns estão sérios, outros sorriem, uns
lançam um olhar curioso. Cada rosto é uma história de vida e todos buscam a
lente da câmera. Através dessa imagem, podemos ver os detalhes daquelas pessoas,
suas roupas, chapéus, o que seguravam, enfim, de certa forma conseguimos estar
lá com eles, sentindo a mesma emoção.
DETALHES DA FOTOGRAFIA
A CANÇONETA
Na época desse grande
acontecimento o teatro de revista estava consolidado em nosso país e a Abolição
foi um ótimo tema para homenagens e referências pelos revistógrafos. Como o
teatro de revista apresentava músicas cômicas, picantes e satíricas, abordando
vários temas, a Missa Campal do dia 17 de maio foi a inspiração para uma
cançoneta que iria fazer muito sucesso no restinho de século que faltava e no
início do século XX.
A música
chamava-se Missa Campal e foi lançada na revista (peça)
intitulada 1888, da autoria de Raul Pederneiras, que estreou em 27
de dezembro no teatro Variedades Dramáticas. Seu criador nos palcos foi o
célebre ator Machado Careca. A melodia era de uma canção francesa, da autoria
de Lesorn. Mesmo com o êxito obtido, teve críticos que a combateram. Mas, o
sucesso prevaleceu e a famosa cançoneta seria gravada em 1902 pelo pioneiro
cantor de discos Bahiano (Manuel Pedro dos Santos), que a regravaria em
dezembro de 1913.
A revista que a música cita,
provavelmente, seria a revista de tropas feita pela guarda imperial.
Degas, no contexto, era uma gíria
da época para definir um sujeito contador de vantagens, um
"sabichão".
Matolatagem é o mesmo que
mantimentos, suprimentos.
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Ator Machado, também conhecido por Machado Careca. Arquivo Nirez. |
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Bahiano, nome artístico de Manuel Pedro dos Santos. Arquivo Nirez. |
MISSA CAMPAL
Cançoneta gravada por Bahiano
Disco Odeon Record 108.717
Matriz XR-1364
Lançado em 1913
Tendo um gênio vivo e pagodista
para a bela pândega descaio
Fui com a família pra
revista
em honra do Treze de Maio
Ai, que prazer calmo e jocundo
Íamos os quatro a dois de fundo
A mãe e a filha, a frente guarda
e eu, com a sogra, na retaguarda
Cada um, para a viagem,
levou matalotagem
Cá, o Degas, todo o pão levou
a esposa, o queijo, nada mal
A sogra preparou bolos e bacalhau
E a menina, um belo angu
de quicopós e caruru
Bem contentes e diligente
pra São Cristóvão fomos nós
todos, afinal.
Os quatro a rir, para poder
assistir
ao desfilar das tropas
e à Missa Campal
Íamos de carro e, de repente
lá surge a tropa, bela vista!
De cada corpo, um contingente
marchava à largo pra revista
Uma das bestas, espantada
levou a outra em disparada
Ai, que sarilho,
Ai, que escarcéu
Perdi o pão, perdi o chapéu
A pobre sogra ver bem, não logra
Na confusão entra a gritar
frente a mim para saltar
Porém, no repelão
Coitada, foi ao chão
De forma tal que, por um triz
no olho entrou-lhe o meu nariz
Mas passado o caso desastrado
a pé pra São Cristóvão fomos,
nós, afinal
Os quatro a rir para poder
assistir
ao desfilar das tropas e à Missa
Campal.
Ao campo, enfim, ei-nos chegado
na relva fomos sentar
Já pela fome torturados
Entramos logo a manducar
A revista a começar
Trepei nos ombros da mulher
e está, na filha que, pra ver
trepara mais atrás aos ombros dum
rapaz.
A sogra não vê bem
trepar em todos quer, porém,
coitada foi ao chão do alto do
lampião
E foi a queda tão aguda
que a pobre velha ficou muda.
Agradecimento ao Arquivo Nirez
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