Em 1922, foi lançado na França o romance La garçonne, de Victor Margueritte. Embora sendo considerado um escândalo, várias edições foram esgotadas, sendo um sucesso mundial. Em 1923, foi lançado no Brasil com o título de A emancipada, trazendo como subtítulo o título original.
Logo, surgiram coisas o nome À la Garçonne ou À la homme, principalmente os cabelos femininos aparados na altura da nuca, que causavam escândalos.
Em Hollywood, estrelas como Pola Negri e Louise Brooks, ajudaram a divulgar a moda.
No Brasil, a pioneira desse estilo foi a atriz e soprano Margarida Max, uma das mais queridas Rainhas do Teatro de Revista, que reinou absoluta no início dos anos 20.
Como era regra, toda novidade de destaque era logo retratada no teatro de revista carioca.
Em 05 de maio de 1924 estreou, no Theatro Recreio, a peça À la garçonne, de Marques Porto e Afonso de Carvalho. A música ficou a cargo do excelente compositor Pedro de Sá Pereira.
Salvyano Cavalcanti de Paiva nos conta que a peça "apresentava uma urdidura moderna aproveitando assuntos da atualidade através de comentários ora amáveis, complacentes, ora mordazes, implacáveis, deliciando e fazendo rir à socapa ou abertamente". O sucesso foi absoluto. A crítica e o público, unânimes, adoraram o espetáculo que, em quatro meses, teve mais de 300 (trezentas!) representações ininterruptas, foi considerada a revista (peça) do ano e uma das 10 maiores de todos os tempos.
A direção ficou com Francisco Marzullo,a regência orquestral com Antônio Lago (pai do ator e compositor Mário Lago).
Coreografia - Gus Brown
Cenografia - Lazary, Públio Marroig, Raul de Castro e Marco Tullio
Figurinos - Alberto Lima
Elenco - Margarida Max, Ester Lutin, Luísa Fonseca, Diola Silva, Téo Dorá, Antonieta Fonseca, Isaura Pereira, Henrique Chaves, Francisco Correia, J. Figueiredo, Balbina Milano, Agostinho de Souza, José Loureiro, Orlando Nogueira, Pascoal Américo, Edmundo Maia, Domingos Terras, Claudionor Passos, Manoela Mateus, Júlia de Abreu, Maria Matos, Judith Vargas, Renée Bell, João Martins, Lídia Reis e Lola Giner.
Para a peça, Margarida Max e as coristas foram submetidas às tesouras implacáveis e seus cabeleireiros, por ordem da produção. De tesouras e máquina zero à mão, elas cantavam com estrondosa repercussão a música Cabeleira à la Garçone, da autoria de Pedro de Sá Pereira, com música de Américo F. Guimarães.
Salvyano Cavalcanti Paiva nos apresenta uma letra, cantada no teatro, diferente à que foi gravada.
Como a peça estreou em maio de 1924, Cabeleira à la Garçonne, na verdade um foxtrot, fez grande sucesso no carnaval de 1925.
A grande soprano Zaíra de Oliveira gravou a música na Casa Edison, provavelmente, em 1924, sendo o disco lançado em 1925 para o carnaval.
Como se dizia na época, a peça abafou a banca!
Os espectadores saiam todas as noites do Recreio assobiando a melodia de Cabeleira à la Garçonne.
Muitas moças e senhoras, aderiram à nova moda, pondo abaixo as enormes madeixas que cultivavam, fazendo aparecerem bonitas nucas, que passariam a ser arejadas durante o verão carioca e, brasileiro.
Um detalhe importante!
Lembram das mais de 300 representações originais da peça?
Bom, em 14 de novembro daquele mesmo 1924, À la garçonne foi reapresentada e ficou em cartaz até o dia 05 de novembro, com, aproximadamente, 30 (trinta) representações.
A crítica declarou que a peça era "leve, engraçada, brejeira, sem quadros fatigantes". Era "urdida à moderna, aproveitando assuntos em foco através de comentários ora amáveis ora mordazes". Exaltava a classe de Margarida Max, a vivacidade de Manoela Mateus, "estrelíssima" graça à sua natural simpatia. Mencionava as interpretações positivas de João Martins, José Loureiro e Edmundo Maia nos quadros de crítica de costumes.
E não foi só isso...
Em 1955 (31 anos após a estréia da peça), na pré-estréia do show A Grande Revista*, a atriz Zaíra Cavalcanti, já veterana e em boa forma, cantou Cabeleira à la Garçonne. Foi uma emoção geral na platéia! Ainda mais, por um motivo: a própria Margarida Max, sua criadora, estava na platéia, como convidada especial.
* Produção e direção de Carlos Machado, montada no night-club da Cinelândia chamado Night and Day, feita para a crítica teatral.
Segundo Salvyano, que lá se encontrava, a apresentação provocou "lágrimas, risos e aplausos entusiásticos à ideia, a Machado, à criadora, a inexcedível Margarida Max, e à interpretação soberba de Zaíra".
Com certeza, um evento inesquecível.
Pequena conclusão
Sempre considerei a década de 1920 a que mais rompeu tradições e quebrou tabus. Se olharmos como a mulher vivia, se vestia e era vista nas décadas anteriores, notaremos uma gritante diferença. Nessa década ousada, já não eram padrões os vestidos longos e já podíamos contemplar belas pernas; a ousadia das vamps colaborou para que mais vozes e pensamentos femininos fossem ouvidos, afinal, estava escancarado que a mulher também tinha desejos; um fato interessante dessa década é a inserção do violão, até então marginalizado, nas salas de famílias, sendo tocados por mocinhas, que tinham aulas com antigos violonistas ou por senhoritas que já haviam abraçado o instrumento. Agora, tocar violão era elegante e dava um tom intelectual às jovens.
Um dos fatos mais marcantes, sem dúvida, foi o corte estilo à la garçonne. Até o surgimento da moda, as mulheres traziam cabelos longuíssimos, usando-os em penteados ornamentais que, ainda por cima, ainda traziam apliques para um melhor acabamento. Ao vermos numa época vizinha a essa as mulheres com cabelos curtíssimos, com máquina zero à nuca, temos claramente o fim de uma época e início de uma outra que, até hoje, nos é mais próxima.
Confiram a música
Cabeleira à la Garçonne
Foxtrot de Pedro de Sá Pereira e Américo F. Guimarães
Gravado por Zaíra de Oliveira
Disco Odeon Record 122.768
Lançado em 1925
Cabeças à la Garçonne
Com toda graça repetis
As cabeleiras encantadoras
Da moda chique de Paris
A cabeleira é só perfume
A cabeleira, só assim
É um borrão de negrume
Com um borrão de carmim
Cabeleira à la Garçonne
Usá-la assim
Eis que é preciso
Cabeças que só tem cabelo
E mais cabelo que juízo
Com tão curtos os cabelos
A face fica, assim, mais linda
Nossa cabeça que é tão leve
Ah! Fica assim, melhor ainda
Não se pode mais dizer
Que a mulher, oh, que atrevidos
Tem as idéias muito curtas
E tem os cabelos compridos
Margarida Max com seu cabelo à la Garçonne.
Fontes:
Arquivo Nirez
Arquivo Marcelo Bonavides
Salvyano Cavalcanti de Paiva, Viva o Rebolado - Vida e morte do teatro de revista brasileiro, Nova Fronteira, 1991.
Revista ANoite Illustrada, 1933. (Da esquerda para a direita: Lamartine Babo, Ary Kerner (ao piano), Gastão Formenti e José Maria de Abreu).
Confiram a música ensaiada por Gastão Formenti.
Promessa
Canção de José Maria de Abreu e Ary Kerner Veiga de Castro
Gravada em 23 de junho de 1933 e lançada em julho desse mesmo ano.
Acompanhamento da Orquestra Victor Brasileira, sob direção de João Martins.
Disco Victor 33.682-A, matriz 65786-1.
Fonte: Arquivo Nirez Revista A Noite Illustrada (14-06-1933).
A revista Carioca de novembro de 1935, apresentou uma matéria sobre os penteados modernos. A revista pertence ao Arquivo Nirez, situado em Fortaleza (Ce). Os comentários das legendas são copias dos originais da revista. Vale a pena conferir.
PENTEADOS MODERNOS
Betty Furness, estrela da Metro,
apresentando um penteado moderno.
Modelo Renaissance, apresentado por
Patricia Ellis, estrela da Warner-First.
Uma verdadeira confusão de ondas e cachos,
é este penteado de Ann Sothern,
estrela da Columbia Pictures.
"A arte do penteado é das mais sutis e delicadas. A mão hábil de um coiffeur elegante pode dar um toque maravilhoso, de chique inconfundível, a uma cabeça feminina. Um penteado desastrado, “démodé” ou mal escolhido, pode, porém, transformar um rosto bonito, uma cabeça graciosa, em qualquer coisa de desagradável à vista. Os novos penteados são de uma leveza e de uma graça encantadora. Representam uma transição entre cabelos longos e os cabelos curtos. Esse meio termo tem encontrado excelente acolhida nas camadas femininas, nos meios elegantes. As franjinhas são restauradas nesses novos penteados, não lisas como outrora, porém crespas, encaracoladas, ondeantes, em pequenos cachos. Não há dúvida que é a trabalhoso arranjá-las, mas não há dúvida, também, que vão magnificamente com as silhuetas modernas e que ao um aspecto juvenil à fisionomia".
Ao lado, Jack Dawn, encarregado do departamento de maquilagem da Metro, realiza suas interessantes experiências de tinturas para cabelo num coelhinho branco. Aqui o vemos depois de ter arranjado o penteado de Betty Furness, verificando a coloração do cabelo da jovem artista.
June Knight com sua franjinha ondeada,
última criação em matéria de coiffure.
Discreto modelo apresentado por Eleanor Powell,
intérprete de Broadway Melody of 1935.
Trabalhoso penteado de Merle Oberon,
estrela de United Artists. Nada menos
de três horas foram necessárias para
para compor esse bizarro diadema de cabelos...
Armand, famoso coiffeur parisiense,
ao lado da jovem star Mary Carlisle, da Metro,
para quem criou esse lindo modelo de penteado.
Um divertido samba de Sinhô (José Barbosa da Silva) gravado em 1925 por Fernando e o Coro do Jazz Band Sul Americano de Romeu Silva, para a Casa Edison. Disco Odeon Record 122.946. O disco foi lançado em 1926. Observem que nessa gravação, mesmo mecânica, já não há a famosa locução anunciando a música.
É lá era um dito da época. A musica reúne em seu estribilho frases populares "admiravelmente agrupadas, fazendo sentido", segundo Edgar de Alencar.
A letra original trazia quatro estrofes e o refrão. Fernando gravou somente as duas primeiras estrofes, o refrão e uma estrofe adicional.
Corta a Saia (É Lá!)
É lá! É lá!
Que o gato arranha a gente
Tem serpente, cobra macho
Tem até bicho demente
Se a moda pega
Do corta-saia
Acerta o passo
Cai no mangue
E sai da raia.
É lá! É lá!
Que o mestre é o macaco
Dança o urso e o elefante
Enquanto o burro cose o saco
É lá! É lá!
Que o sapo entra sambando
E o hipopótamo, coitado
De raiva, fica suando
Fonte: Arquivo Nirez Nosso Sinhô do Samba - Edgar de Alencar (FUNARTE, 1981).
A cantora Jesy Barbosa foi um do maiores nome de nossa música popular brasileira. Com sua belíssima voz deixou várias músicas gravadas, em um exemplo do nosso melhor cancioneiro.
Além de cantora, Jesy também era violonista, trovadora, rádio-atriz, escritora, dramaturga e jornalista.
Em breve, no site do Arquivo Nirez ( que logo será lançado), você conferem um programa de rádio dedicado especialmente à ela, produzido e apresentado por mim. Nesse programa será exibido trechos de uma entrevista feita nos anos 80, onde Jairo Severiano e Paulo Tapajós conversam com Jesy, então com cerca de 80 anos.
Nascida em 15 de novembro de 1902, Jesy Barbosa foi uma das primeiras cantoras relembradas por nosso blog. Ela sempre voltará para nos encantar com sua voz e talento.
Em outras postagens já contamos um pouco sobre sua vida e obra:
Em 28 de fevereiro de 1931, a revista Phono-Arte, em suas críticas às gravações lançadas no mercado, comentou um disco da cantora. Confiram:
"A forma e o estilo decanto de Jesy Barbosa, requerem um determinado gênero de repertório, fato que observamos em todas as suas gravações até agora feitas. A gentil artista se adapta muito bem às toadas, canções e tudo mais que de perto toque a estes dois gêneros. Aliás, tem sido nesse domínio a maioria de seus discos Victor. - Jesy voltou-nos desta vez vez cantando dois samba-canções, de ritmos dolentes e bem adaptados ao seu estilo: Com Yayá é assim, da lavra de Cândido das Neves e Coração que esqueceu, da autoria de Randoval Montenegro, peças que constituem o seu disco n. 33.406. São dois bons sambas canções no gênero daqueles que valeram tanta popularidade a Henrique Vogeler. Destacamos a peça de Randoval como sendo a melhor ao nosso ver e mesmo na qual a atuação de Jesy se evidencia muito particularmente, sendo um de seus melhores momentos diante do microphone Victor. - Os acompanhamentos são bem feitos, na primeira peça por Orquestra e violões e na segunda por dois violões e violino ( este num primeiro plano demasiado)".
Vale lembrar que o maestro e compositor Henrique Vogeler foi o autor do primeiro samba canção, Linda Flor (Ai Yoyô), lançado e gravado por Aracy Côrtes, com o título de Yayá, no final de 1928.
Confiram as músicas citadas no artigo:
Com Yayá é assim
Samba canção de Cândido das Neves, o Índio
Foi lançado no teatro de revista por Aracy Côrtes
Gravação de Jesy Barbosa de 04 de novembro de 1930
Coração que esqueceu
Samba canção de Randoval Montenegro
Gravado em 22 de novembro de 1930
Para esta quarta de lua cheia, um belo samba do repertório de Carlos Galhardo.
Deixaste Saudade
Samba de Alcebíades Barcellos (Bide) e Armando Marçal
Gravação de Carlos Galhardo, com acompanhamento de Conjunto Regional RCA Victor
Disco RCA Victor 34.378-B, matriz 80771-1
Gravado em 27 de abril de 1938 e lançado em novembro desse mesmo ano
"Diamantina Gomes, actualmente na Rádio Cruzeiro do Sul,
contratada para a Companhia Alda Garrido, no Theatro Carlos Gomes". (Revista Carioca, 1937)
Em minhas pesquisas sempre encontro novidades compensadoras. Eis Diamantina Gomes que, mesmo tendo iniciado carreira artística nos anos 30, só iria gravar na década de 50.
Fonte: Revista Carioca, 24-04-1937, nº79 (Arquivo Nirez, Fortaleza, Ce).
Quando era criança, no começo dos anos 80, lembro que foi exibido na Rede Globo o filme ... E o vento levou. Foi apresentado em dois dias, devido o filme ser longo. Naquela época, meu pai tinha um vídeo cassete, daqueles que eram duas bases, uma colocava a fita e a outra sintonizava os canais. Feita a gravação, eu comecei a ver trechos do filme. Ele havia sido reexibido como merecia, com pompa e sensação. Lembro que sempre que meus pais saiam nas noites de sexta ou sábado, eu pedia para ver ...E o vento levou. Semana após semana, eu pequenino, ia decorando as falas (era a versão dublada), e me apaixonando pela música, a história e seus personagens. As cenas passadas na velha árvore, com a fazenda Tara ao fundo e a musica de Max Steiner, me deixavam hipnotizados. Como algo poderia ser tão belo? Principalmente a cena final, “Amanhã é um outro dia”, com o coro se elevando e a música atingindo seu ápice e o close em vivien leigh que, depois, aparecia de costas nas mesma árvore, tendo ao fundo sua casa, um cenário maravilhoso que encerrava de forma triunfal o filme.
Quando adolescente descobri que uma colega do colégio também adorava ...E o vento levou e Vivien Leigh. Ficávamos horas comentando o filme, detalhes da produção e da vida da atriz. Às vezes, saia discussões, pois cada um queria amar mais a Vivien e a sua película.
Em 1989, quando o filme completou 50 anos de lançamento, Regina Duarte apresentou a reexibição. Mais uma vez foi gravado, dessa vez por mim.
Ao longo dos anos, esse filme fascina cada vez mais. Tudo nele fascina. Da história à produção, passando pelos atores. Para mim é o melhor filme de todos os tempos. Sinceramente, já perdi as contas de quantas vezes o assisti, desde criança, quando era minha diversão dos fins de semana. Até hoje, sabendo decorada a história, vejo e me emociono.
E Vivien Leigh passou a ser, para mim, um grande mito, alguém que admiro e respeito.