segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

CRÔNICAS DE JOTA EFEGÊ - STEFANA DE MACEDO

Jota Efegê
Livro: Meninos, eu Vi, Funarte, 2007.
Arquivo Marcelo Bonavides


Há 112 anos, em 27 de janeiro de 1902, nascia no Rio de Janeiro o jornalista JOTA EFEGÊ (João Ferreira Gomes). Ele também era musicólogo, historiador, cronista e pesquisador, sendo testemunha de vários acontecimentos de nossa música popular brasileira e cultura em geral.

Escreveu para várias publicações, como o Jornal das Moças, revistas Carioca, Noite Illustrada, aposentando-se pelo jornal Diário Carioca.

Também escreveu vários livros falando sobre nossa música, entre eles, Ameno Resedá - O Rancho que foi Escola, em 1965; Maxixe, a dança excomungada, em 1974; Figuras e coisas da Música Popular Brasileira, vol. 1, em 1978 e o vol. 2 em 1980. Em 1982, lançou Figuras e coisas do Carnaval Carioca e, em 1985, Meninos, eu Vi, sobre os eventos e fatos que presenciou em nossa música.

Jota Efegê faleceu no Rio de Janeiro, em 25 de maio de 1987.

Dele, vou reproduzir uma crônica publicada originalmente no jornal O Globo, em 27 de agosto de 1974, onde fala sobre a cantora e pesquisadora de folclore Stefana de Macedo. Seu relato seria incluso no livro Meninos, eu Vi, de sua autoria e publicado em 1985.
Chamo atenção para a idade de Stefana. Em sua crônica, Jota Efegê, cita a cantora com 23 anos em 1928, levando a crer que ela teria nascido em 1905. Porém, a data mais frequente citada do nascimento de Stefana é o ano de 1903. Assim foi citado na revista Phono-Arte de julho de 1930, que depois se corrigiu citando o ano de 1909. O Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira dá como sendo 1903 o nascimento da cantora.

De qualquer forma, o texto é uma de uma rica informação e uma justa homenagem, sendo publicado pouco depois de Stefana falecer.

Aqui, você confere a biografia de Stefana de Macedo: http://zip.net/bpmdwJ



Stefana de Macedo em 1928.







STEFANA, A FIEL INTÉRPRETE DAS CANÇÕES FOLCLÓRICAS

Por Jota Efegê



De uma geração que teve Olgarita dell´Amico, Patrício Teixeira, Alda Verona, Gastão Formenti, Olga Praguer Coelho e Elisinha Coelho (numa citação feita ao aflorar da memória), Stefana de Macedo firmou destaque. Intérprete de muita autenticidade do folclore nordestino, em especial o da terra pernambucana, onde nasceu, marcou sua presença em nosso meio artístico somando merecidos louvores.

Talvez a gente moça, desatenta no que houve antes, ignore a importância da cantora Stefana, mas os estudiosos, os que não a alcançaram em pleno fastígio artístico, devem estar informados de sua categoria. Tendo ocorrido agora, na primeira quinzena de agosto, seu falecimento e sem ter provocado nos jornais, mesmo nas colunas especializadas, o registro biográfico que lhe seria de justiça, cabe aqui um preito de recordação.


O FOLCLORE COM EXATIDÃO

Ex-aluna do conceituado Colégio Ramp Williams, em Botafogo, onde fez sua iniciação musical aprendendo piano, logo depois dedicava-se ao violão tendo como mestres Patrício Teixeira e Rogério Guimarães. Assim, em 1928, aos 23 anos, ao fazer sua estréia no recital que realizou no desaparecido Teatro Lírico cantando e acompanhando-se ao violão num programa inteiramente folclórico, marcou seu primeiro triunfo. Registrava o que os críticos classificaram acertadamente de “estréia auspiciosa”. Saudavam-na, todos, como fiel intérprete do cancioneiro nordestino.
Outros recitais ensejaram-lhe novos louvores e fizeram com que as gravadoras fonográficas a atraíssem para os seus estúdios. A etiqueta Odeon, e depois a Columbia, editaram-na em excelentes discos que prontamente saíam das prateleiras consagrando a magnífica intérprete de História triste de uma praieira, Mãe Maria Camundu (sic), Bicho caxinguelê, Sussuarana, Sodade caboca, Nos cafundó do coração, Era aquilo só, Saia do sereno e tantas mais cuja autoria de versos e música eram dela própria, João pernambuco, Heckel Tavares, Luiz Peixoto, Olegário Mariano, Adeimar (sic) Tavares e de outros nomes de igual valia.


NO COLÓN COM VILLA-LOBOS

O prestígio que a aureolava como magnífica intérprete de nosso folclore dez com que, quando da visita do presidente Getúlio Vargas à Argentina, a levassem para uma exibição em Buenos Aires. Lá no famoso Teatro Colón, tendo a acompanhá-la Villa-Lobos ao piano, cantando alguns números de autoria de seu acompanhante e vários de seu bem cuidado repertório, viu toda a platéia delirar em aplausos e da insistência de bis. Tal consagração valeu-lhe um honroso contrato na Rádio belgrano com suas audições nos horários nobres, o das estrelas.
A evidência de sua categoria, a par do sucesso que as gravadoras às quais estava vincuçada alcançavam editando seguidamente as “chapas” que a tinham como intérprete, faziam-na viver sob constantes solicitações e ser alvo de seguidas homenagens. A que lhe prestou a Academia de Letras de São Paulo, onde foi saudada por Pílio Salgado que – por doença de Menotti del Picchia o sibistituiu – , se desobrigou a contento exaltando-lhe seus méritos, foi, inegavelmente, uma das mais expressivas.
Sobre Stefana de macedo, consagrando-a, muito ficou nos registros da imprensa de sua época, mas um deles, o que se encontrou na revista Phono-Arte de 15 de fevereiro de 1930, merece ser aqui reproduzido: “...O sucesso de Stefana reside num fato simples e lógico: sendo nortista e conhecendo profundamente as melodias, os ritmos, as maneiras de cantas daquelas bandas e também sabendo o interessante folclore poético que lá existe, ela se tem consagrado exclusivamente a ele. É, pois, uma intérprete autêntica...”

O Globo, 27.8.74, p.34, 2º Caderno.








Agradecimento ao Arquivo Nirez











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