sexta-feira, 28 de abril de 2023

O PÉ DE ANJO - 103 ANOS DE UMA PEÇA DE SUCESSO






O PÉ DE ANJO


Há 103 anos estreava uma das mais famosas peças de nosso Teatro de Revista, intitulada O PÉ DE ANJO.         
 
  
Confiram sua história. 

      

Em outubro de 1919, o compositor José Barbosa da Silva, o Sinhô, levava um jovem cantor iniciante para gravar seu primeiro disco pela gravadora A Popular, de propriedade de João Gonzaga, esposo da maestrina e compositora Chiquinha Gonzaga. O jovem cantor se chamava Francisco Alves, que ficaria conhecido como O Rei da Voz décadas depois.

Na ocasião, Francisco Alves gravou algumas composições de Sinhô, como: Papagaio Louro (Fala, Meu Louro), samba; Alivia esses Olhos, samba, e O Pé de Anjo, marcha. Todas elas seriam sucesso no Carnaval de 1920, porém, O Pé de Anjo se sobressaiu, sendo cantada e lembrada por muito tempo.

O sucesso da marchinha levou a dupla de revistógrafos, Cardoso de Menezes e Carlos Bittencourt, a escreverem a peça O Pé de Anjo. Em 17 de abril de 1920, segundo o jornal O Paiz, os ensaios estavam bem animados, anunciando a estreia para o dia 28 do mesmo mês.


O Paiz, 17 de abril de 1920, p.04
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O teatro onde era preparada a peça era o São José, que então apresentava a “hilariante” burleta em três atos, O Cabo Ophrasio, estrelada por Otília Amorim e Alfredo Silva. No cartaz da peça, exibido nos jornais, em baixo, se lia que a próxima atração seria O Pé de Anjo.


O Paiz, 23 de abril de 1920, p.05
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No dia 28 de abril de 1920, uma quarta-feira, a revista O Pé de Anjo estreava no Theatro São José, da Empresa Paschoal Segreto. Era assinada, como já dissemos, por Cardoso de Menezes e Carlos Bittencourt. O espetáculo apresentava dois atos, sete quadros e duas apoteoses. Era apresentado em três sessões: ás 19:00, 20:45 e às 22:30 (na grafia da época: “Ás 7, 8 ¾ e 10 ½). O diretor da peça (ensaiador) era Isidoro Nunes. A música era composta por vários nomes como Sinhô (José Barbosa da Silva), Eduardo Souto, Júlio Cristóbal, Bernadino Vivas e Bento Mossurunga, esses dois últimos também maestros da peça. Os cenários eram assinados por Angelo Lazary, Jaime Silva e Rômulo Lombardi.



O Paiz, 28 de abril de 1920, p.14
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O elenco trazia grandes nomes do Teatro de Revista: Alfredo Silva, Otília Amorim, Júlia Martins, João de Deus, J. Figueredo (que interpretava O Pé de Anjo), Cecília Porto, Antonieta Olga, Henriqueta Brieba, Cândida Leal, Pedro Dias, Raul Gonçalves, Luiza Caldas, Maria Ruiz, Dolores Lopes, Isaura Pereira e Rita Ribeiro.  

O cartaz destacava a estreia da atriz Antonieta Olga, que estava afastada do palco há alguns anos.

Os quadros da peça eram comentados antes de sua estreia, destacando-se o quadro do vagão dormitório de um trem (wagon leito). Um dos pontos altos da peça era o foxtrote dançado por Otília Amorim e Pedro Dias, vestidos de cowboys, bem ao estilo de Tom Mix, astro americano da época. Esse quadro seria relembrado por décadas.



O Malho, 1940
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A crítica à peça já previa o estrondoso sucesso que viria nas semanas seguintes, já prevendo o centenário de apresentações, segundo O Paiz, de 29 de abril de 1920. Seguia dizendo que o espetáculo, segundo a gíria dos frequentadores do Theatro São José, era um “succo”. As três sessões lotadas, com o público pedindo bis em várias ocasiões, havia marcado a estreia da peça. Houve elogio ao quadro dos vagões leitos, uma sátira aos trens noturnos mineiros, também se elogiou o foxtrote de Otília Amorim e Pedro Dias, com o inconveniente do revólver de Otília ter falhado em cena.



 O Paiz, 29 de abril de 1920, p.05
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Correio da Manhã, 29 de abril de 1920, p.06
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Gazeta de Notícias, 29 de abril de 1920, p.05
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Jornal de Theatro & Sport, 1920 http://memoria.bn.br/

Palcos e Telas, 1920
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Os cartazes da peça apresentavam, a cada dia, o número de pessoas que assistiram à peça, bem como a crítica de outros jornais famosos ao espetáculo. Era uma bem sucedida publicidade em torno da revista em cartaz no Theatro São José. O número de pessoas que assistiam O Pé de Anjo aumentava cada vez mais pois, além das três sessões, ainda era exibido um espetáculo na matinê. O centenário das apresentações se aproximava e foi providenciada uma festa para se comemorar, bem como novas atrações para a peça.


O Paiz, 01 de maio de 1920, p.14
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O Paiz, 29 de abril de 1920, p.08
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O Paiz, 11 de maio de 1920, p.12
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O Pé de Anjo fez tanto sucesso que foi alcançando 150, 200, 250 até atingir a marca de 300 apresentações seguidas. No dia que completou 300 apresentações, 26 de julho de 1920, uma segunda-feira, a peça disse adeus ao público, encerrando sua triunfante carreira. Porém, segundo Salvyano Cavalcanti de Paiva, a revista retornou em agosto e setembro, e em outubro, com o mesmo elenco e no mesmo teatro, reunindo ao todo quase 500 representações. Depois, com outro elenco (destacando-se Laís Areda, Antonieta Olga e Mesquitinha) e no Teatro Lírico, chegaria a 1921, com muito sucesso.



O Paiz, 01 de junho de 1920, p.06
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O Paiz, 01 de junho de 1920, p.07
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O Paiz, 02 de junho de 1920, p.08
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O Paiz, 26 de julho de 1920, p.06
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Enquanto esteve em cartaz na primeira temporada, O Pé de Anjo apresentou quadros novos. Vale lembrar que os artistas não tinham folga. Enquanto apresentavam centenas de vezes a mesma peça, já ensaiavam para outras que iriam substituir a que estava em cartaz.

Ao longo das apresentações houve algumas festas em benefício a atores como Cecília Porto, Franklin de Almeida e Alfredo Silva. E novas atrações eram exibidas para o público, como novos quadros e até a apresentação dos Oito Batutas em uma das festas.



O Paiz, 22 de junho de 1920, p.04
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O Paiz, 30 de junho de 1920, p.10
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O Paiz, 23 de julho de 1920, p.04
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O Pé de Anjo foi um marco na história do Teatro de Revista, com autores, elenco, músicos e um quadro de colaboradores competentes e aclamados, surgiu em uma época em que as revistas estavam mornas, precisando ser feita uma remodelação na forma de se fazer o Teatro de Revista no Brasil. Com grande acerto, Cardoso de Menezes e Carlos Bittencourt emplacaram um grande sucesso, cujos ecos ainda se fazem ouvir hoje aos que pesquisam e amam nosso teatro musicado.



Autores de O Pé de Anjo



CARLOS BITTENCOURT

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 CARDOSO DE MENEZES

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Elenco de O Pé de Anjo 



OTÍLIA AMORIM

Arquivo Marcelo Bonavides


JÚLIA MARTINS

Arquivo Marcelo Bonavides



HENRIQUETA BRIEBA

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CECÍLIA PORTO

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ANTONIETA OLGA


Arquivo Marcelo Bonavides



CÂNDIDA LEAL


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LUIZA CALDAS


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DOLORES LOPES


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MARIA RUIZ


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ALFREDO SILVA

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JOÃO DE DEUS

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PEDRO DIAS

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Fotos e Cartazes



ALFREDO SILVA E HENRIQUETA BRIEBA
O Pé de Anjo, 1920
Arquivo Marcelo Bonavides

PEDRO DIAS E OTÍLIA AMORIM
O Pé de Anjo, 1920
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JORNAL DE THEATRO & SPORT
Cenas de O Pé de Anjo, 1920
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O Paiz, 25 de junho de 1920, p.10
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O Paiz, 01 de julho de 1920, p.07
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O Paiz, 13 de julho de 1920, p.05
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O Paiz, 25 de julho de 1920, p.10
http://memoria.bn.br/





Gravações de O Pé de Anjo


O PÉ DE ANJO

Eu tenho uma tesourinha
Que corta ouro e marfim
Guardo também para cortar
As línguas que falam de mim

Oh, Pé de Anjo
Oh, Pé de Anjo
És rezador, és rezador
Tens um pé tão grande
Que és capaz de pisar Nosso Senhor
Nosso Senhor!

A mulher e a galinha
São dois bichos interesseiros
A galinha pelo milho
E a mulher pelo dinheiro.



FRANCISCO ALVES
Arquivo Nirez




O PÉ DE ANJO

Selo de O Pé de Anjo
Arquivo Nirez

Marcha Carnavalesca de Sinhô (José Barbosa da Silva)
Gravada por Francisco Alves
Acompanhamento do Grupo dos Africanos
Disco Popular Record 1.008, matriz 1008-2
Gravado em outubro de 1919 e lançado em 1920



O PÉ DE ANJO

Selo de O Pé de Anjo
Arquivo Gilberto Inácio Gonçalves

Marcha Carnavalesca de Sinhô (José Barbosa da Silva)
Gravada pelo Bloco do Fala Meu Louro
Disco Popular Record 1.000, matriz 1000
Gravado em outubro de 1919 e lançado em 1920



O PÉ DE ANJO
Marcha de Sinhô (José Barbosa da Silva)
Gravada por Bahiano
Acompanhamento de Coro
Disco Odeon Record 122. 453
Lançado em 1923



O Pé de Anjo, com Blecaute




O PÉ DE ANJO
Baião de Sinhô (José Barbosa da Silva)
Gravado por Orlando Silveira (Acordeon)
Acompanhamento de Regional
Disco Copacabana 098-A, matriz C-098-A
Lançado em agosto de 1952



O PÉ DE ANJO
Baião de Sinhô (José Barbosa da Silva)
Gravado por Orlando Silveira (Acordeon)
Acompanhamento de Regional
Disco Copacabana 5.105-B, matriz M-463
Lançado em maio/junho de 1953





O PÉ DE ANJO
Marcha de Sinhô (José Barbosa da Silva)
Gravada pela Banda RGE, sob a Direção de Henrique Simnetti
Disco RGE 10.050-A, matriz RGO-190
Lançado em julho de 1957















Agradecimento a Gilberto Inácio Gonçalves e ao Arquivo Nirez










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