domingo, 20 de abril de 2025

RELEMBRANDO A ATRIZ-CANTORA JÚLIA MARTINS

JÚLIA MARTINS
 



Entre as principais atrizes-cantoras do começo do século XX, destacamos a carioca JÚLIA MARTINS. Ela foi uma das primeiras atrizes negras a se profissionalizar em nossos palcos, na virada do século XIX para o XX, destacando-se também nas gravações em discos.
 
Conheçam um pouco de sua trajetória.


Júlia Martins nasceu no Rio de Janeiro em 20 de abril de 1886 (algumas fontes dão como 1890). Adotamos o ano de 1886, devido a notas nos jornais de 1897, que afirmavam que ela teria onze anos de idade.
 
Em 24 de agosto de 1897, o jornal O Paiz anunciava a primeira representação da tradicional ópera-cômica O Sinos de Corneville, no Theatro Eden Lavradio, com um elenco formado por crianças, pela Companhia Infantil da Empresa Palmerino Martins & C., com direção cênica do célebre Jacinto Heller e tendo Agostinho Gouvêa como regente e ensaiador.


O Paiz, 24 de agosto de 1897, p.06
http://memoria.bn.br/


 
A famosa ópera-cômica era uma tradução de Eduardo Garrido, com música de Robert Planquette. O elenco, todo com crianças entre nove e quatorze anos de idade, trazia Júlia Martins, então com onze anos, interpretando Martha, ao lado de também futuros artistas de destaque, como Asdrúbal Miranda (14 anos), que vivia Nicoláo, o pescador, e o “inteligente menino” Franklin de Almeida (14 anos), vivendo Gaston de Corneville. Em 05 de outubro de 1897, a peça era levada ao Theatro Municipal (seria em Niterói? Uma vez que o conhecido Theatro Municipal do Rio de Janeiro foi inaugurado em 1909. Peço ajuda ao colegas pesquisadores.).
 
Em 30 de julho de 1898, no Theatro Sant´Anna, no Rio de Janeiro, Júlia Martins estreava na revista madrileña A Gran-Via, tradução de Moreira Sampaio e música dos maestros Chueca e Valverde. Ela interpretava o papel de “Criada de servir”, sendo apresentada pelo Jornal do Commercio como a “apreciada e gentil actrizinha” Júlia Martins. A empresa era a de Ferreira de Souza e o elenco, também formado por crianças.
 
Em 28 de janeiro de 1899, Júlia Martins embarcava no navio Pernambuco para a cidade de Vitória (ES) e também em direção aos “Estados do norte”, indo com a companhia do empresário Umbelino Dias, que tinha como diretor o ator Cardoso da Motta. Ao lado de Júlia Martins, outros artistas infantis, como Carmen Roldan, Maria Roldan, Consuelo Ulhes, Asdrúbal Miranda e Franklin de Almeida.
 
Essas companhias infantis exibiam as famosas peças de operetas e revistas que eram apresentadas por atores adultos. Dessa forma, Júlia Martins estreou no mundo artístico, como atriz-cantora infantil. Ao longo dos anos, iria se destacar como cançonetista.
 
Em 13 de dezembro de 1902, o jornal A Capital anunciava Júlia Martins, ao lado do ator Lino, apresentando-se no Parque Rio Branco, em Niterói. Nesse local, ao lado dela, também se apresentavam Anna Manarezzi, Eduardo das Neves e Geraldo Magalhães. Em 20 de janeiro de 1903, o mesmo jornal anunciava para esse mesmo teatro, “Júlia Martins, saleroza e cheia de graça promette mil cousas para esta noite”.
 
Ainda em 1902, também atuou na cidade de Petrópolis.


A Capital, 20 de dezembro de 1902
http://memoria.bn.br/




A Capital, 21 de dezembro de 1902, p.05
http://memoria.bn.br/


 
Em 28 de dezembro de 1903, Júlia Martins estreava no Theatro Maison Moderne, como cançonetista brasileira.


Correio da Manhã, 27 de dezembro de 1903, p.02
http://memoria.bn.br/


 
Em 1897, o empresário tcheco Frederico (Fred) Figner iniciou as gravações em cilindros no Brasil, convidando os artistas Bahiano (Manuel Pedro dos Santos) e Cadete (Manuel Evêncio da Costa Moreira) para fazerem as primeiras gravações. A partir de 1902, na Casa Edison, da autoria de Fred Figner, eram gravados os primeiros discos no Brasil, com a participação de Bahiano e Cadete. Os cilindros ainda circularam por vários anos e, em 1903, no jornal O Echo Phonographico, encontramos um anúncio de cilindros brasileiros: “Continuamos tambem a imprimir Cançonetas e Modinhas Brasileiras de Sta. Consuelo, Júlia e do celebre Bahiano”. Senhorita Consuelo foi uma das primeiras mulheres a gravar disco no Brasil e, pela nota, também gravou cilindros. Já a cantora Júlia, citada no anúncio, seria Júlia Martins? A julgar pela notoriedade da artista como cantora, é provável que sim.
 
A partir de 1907, segundo o site da Discografia Brasileira, Júlia Martins começou a ter seus discos lançados no mercado. Até 1914, gravaria cerca de 32 músicas, algumas em parcerias com cantores como Eduardo das Neves, João Barros e Bahiano.
 
Com Bahiano, ela deixou célebres registros como Cidade Nova e Saco do Alferes, que fazia parte da peça O Rio Nú, do final do século XIX, com melodia do tango Favorito, de Ernesto Nazareth. Júlia e Bahiano tinham uma ótima sintonia e sempre estavam bem à vontade nas gravações, brincando um com outro. Podemos sentir isso ouvindo Ai, que gostos, O Engraxate e O Vagabundo e a Mulata, A Vassourinha. Também sabiam ser românticos em A Cigana e o Feiticeiro e, principalmente, em O Retrato e a Flor.
 
Com João Barros, ela gravou algumas músicas, entre as quais destacamos A Capital Federal, tango da burleta homônima de Arthur Azevedo, no qual eles interpretam, precisamente, o Tango do Lourenço, o cocheiro da peça, que canta com a protagonista, a cortesã Lola. Júlia Martins, em meados da década de 1910, atuara em uma remontagem de A Capital Federal, vivendo a criada Benvinda.
 
Sozinha, Júlia Martins gravaria A Mulatinha, de Chiquinha Gonzaga. Também gravaria, entre outras, A Flor da Pitangueira, modinha que ela cantou na peça República do Amor, em 1913. Também gravaria o sucesso do Carnaval de 1913, Caraboo, de Sam Marshall e Alfredo Albuquerque.



Júlia Martins
O Imparcial, 12 de junho de 1915, p.06
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Em grupo, Júlia Martins participou de duas antológicas gravações: Cabocla de Caxangá, que ela viveu no teatro de revista; e A Viola está magoada. A primeira, gravada por Eduardo das Neves, com Bahiano e Júlia no coro; e a segunda, gravada por Bahiano, com Júlia no coro.
 
No começo da década de 1910, passou a se dedicar mais ao teatro musicado, atuando em várias companhias teatrais e alcançando sucesso nos palcos, sendo uma das primeiras atrizes negras a se profissionalizar nesse gênero teatral.
 
No gênero revista ou burleta, Júlia Martins se destacou em várias peças, como O Reino do Maxixe, A Capital Federal, Cabocla de Caxangá, A Sertaneja, Morro da Favela, Flor de Catumby, O Pé de Anjo, entre outras.


Júlia Martins e Brandão Sobrinho em A Capital Federal, 1915
Ela interpretou Benvinda e ele, Seu Figueiredo
Jornal de Theatro & Sport, 1915
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O Imparcial, 22 de dezembro de 1915, p.12
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Júlia Martins faleceu em 13 de outubro de 1932, à noite, vitimada por um ataque cardíaco, em sua casa, na Rua do Lavradio, nº 70, no Rio de Janeiro. Ela tinha 46 anos.



Júlia Martins
Comédia, 1918
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RECORTES SOBRE JÚLIA MARTINS


A Capital, 03 de janeiro de 1903
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A Capital, 11 de janeiro de 1903
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A Notícia, 13 e 14 de janeiro de 1905, p.01
http://memoria.bn.br/



A Capital, 22 de junho de 1909, p.01




A Capital, 24 de junho de 1909, p.01
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Jornal de Theatro & Sport, 1915
http://memoria.bn.br/





O Imparcial, 28 de outubro de 1915, p.12
http://memoria.bn.br/





Júlia Martins
Futuro das Moças 1917, p.16
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Comédia, 1918
http://memoria.bn.br/




Jornal de Theatro & Sport, 1919
http://memoria.bn.br/





Comédia, 1919
http://memoria.bn.br/




Comédia, 1919
http://memoria.bn.br/





Comédia, 1919
http://memoria.bn.br/




Diário da Noite, 14 de outubro de 1932, p.05
http://memoria.bn.br/




Jornal do Brasil, 14 de outubro de 1932, p15
http://memoria.bn.br/




A Noite, 18 de outubro de 1932, p.12
http://memoria.bn.br/




 A Batalha, 18 de outubro de 1932, p.04
http://memoria.bn.br/






GRAVAÇÕES DE JÚLIA MARTINS


A CAPITAL FEDERAL


https://discografiabrasileira.com.br/

Tango de Arthur Azevedo e Nicolino Milano
Gravado por Júlia Martins e João Barros
Acompanhamento de Orquestra
Disco Victor Record 98.908
Gravado e lançado em 1907


 
A VASSOURINHA


https://discografiabrasileira.com.br/

Dueto de Felipe Duarte e Luiz Filgueira
Gravado por Bahiano e Júlia Martins
Acompanhamento de Piano
Disco Odeon Record 120.375
Gravado em 09 de dezembro de 1912 e lançado em 1913



 
O ENGRAXATE


https://discografiabrasileira.com.br/

Dueto de B. Esfolado
Gravado por Bahiano e Júlia Martins
Acompanhamento de Piano
Disco Odeon Record 120.376
Gravado em 09 de dezembro de 1912 e lançado em abril de 1913



 
O RETRATO E A FLOR


Arquivo Nirez

Dueto
Gravado por Bahiano e Júlia Martins
Acompanhamento de Piano
Disco Odeon Record 120.436
Gravado em 17 de dezembro de 1912 e lançado em 1913





 
CIDADE NOVA E SACO DO ALFERES
Dueto de Bahiano e Ernesto Nazareth
Gravado por Bahiano e Júlia Martins
Acompanhamento de Piano
Disco Odeon Record 120.438
Gravado em 17 de dezembro de 1912 e lançado em 1913
 




AI QUE GOSTOS!
Dueto de Bahiano
Gravado por Bahiano e Júlia Martins
Acompanhamento de Piano
Disco Odeon Record 120.439
Gravado em 17 de dezembro de 1912 e lançado em 1913



 
O VAGABUNDO E A MULATA


Arquivo Nirez

Dueto de Bahiano
Gravado por Bahiano e Júlia Martins
Acompanhamento de Piano
Disco Odeon Record 120.440
Gravado em 17 de dezembro de 1912 e lançado em 1913



 
A CIGANA E O FEITICEIRO


Arquivo Nirez

Dueto de Eustórgio Wanderley
Gravado por Bahiano e Júlia Martins
Acompanhamento de Piano
Disco Odeon Record 120.441
Gravado em 17 de dezembro de 1912 e lançado em 1913



 
A VIOLA ESTÁ MAGOADA


https://discografiabrasileira.com.br/

Samba de Catullo da Paixão Cearense
Gravado por Bahiano e Júlia Martins
Acompanhamento do Grupo da Casa Edison
Disco Odeon Record 120.445
Gravado em 18 de dezembro de 1912 e lançado em 1913



 
CABOCLA DE CAXANGÁ


https://discografiabrasileira.com.br/

Batuque Sertanejo de João Pernambuco e Catullo da Paixão Cearense
Gravado por Eduardo das Neves, Bahiano e Júlia Martins
Acompanhamento do Grupo da Casa Edison
Disco Odeon Record 120.521
Gravado em 02 de janeiro de 1913 e lançado em 1913


 
 
CARABOO


https://discografiabrasileira.com.br/

Canção de Sam Marshall e Alfredo Albuquerque (P. Dante)
Gravada por Júlia Martins
Acompanhamento de Orquestra
Disco Odeon Record 137.063
Gravado em 16 de abril de 1913 e lançado em 1913



 
A FLOR DA PITANGUEIRA


https://discografiabrasileira.com.br/

Lundu de Luz Jr.
Gravado por Júlia Martins
Acompanhamento de Orquestra
Disco Odeon Record 137.064
Gravado em 16 de abril de 1913 e lançado em 1913














Agradecimento ao Arquivo Nirez










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