quarta-feira, 25 de outubro de 2023

ARTISTAS VITIMADOS PELA GRIPE ESPANHOLA EM 1918

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Recentemente, nós enfrentamos uma pandemia que trouxe muita tristeza ao mundo, a Covid-19. Há 105 anos, o Brasil e o Mundo enfrentavam outra pandemia, a Gripe Espanhola.  


Conhecida como Espanhola (Hespanhola, na grafia da época), Influenza Espanhola ou Bailarina, essa enfermidade surgiu nos EUA no final da Primeira Guerra Mundial e seguiu para a Europa através de soldados infectados que foram para lá lutar. Daí, se espalhou pelo mundo, chegando ao Brasil, onde fez milhares de vítimas.
 
O nome “Espanhola” se originou da seguinte forma: a Espanha era um dos poucos países neutros durante a Primeira Guerra Mundial, então, sua imprensa era mais livre para noticiar o que acontecia. Nos EUA, por exemplo, o presidente Woodrow Wilson ordenou a censura para qualquer nota sobre a doença, para não abalar a população e os soldados. A Espanha foi o primeiro país a falar abertamente sobre a epidemia, daí resultando no nome da mesma, Gripe Espanhola. Infelizmente, por censurar as notícias, muitos países não se preveniram, favorecendo a propagação da gripe.
 
A pandemia, como diziam, era “democrática”, pois atingia ricos e pobres, sem distinção. Claro que, quem tinha mais posses podia se prevenir mais, indo para lugares afastados de aglomerações, tendo uma melhor alimentação e recursos para se isolar. A maioria da população não podia ter esse privilégio e caia doente a cada dia, com um grande número de mortes. Estima-se que, no mundo todo, 50 milhões de pessoas pereceram vitimadas pela doença, inclusive o presidente do Brasil (eleito em seu segundo mandato) Rodrigues Alves, que foi eleito em 01 de março de 1918, adoecendo em outubro (sem tomar posse) e falecendo em 16 de janeiro de 1919, sendo substituído no cargo de presidente por Delfim Moreira, seu vice.
 
Em meio à pandemia no Brasil, várias avenidas das grandes cidades, como o Rio de Janeiro, ficaram desertas; foi preciso improvisar vários hospitais e os jornais noticiavam casos de suicídios de pessoas em pânico.
 
A pandemia duraria de 1918 até, aproximadamente, 1920.
 
No meio artístico as perdas não foram poucas. Os artistas trabalhavam todos os dias, em grande número de pessoas reunidas, o que facilitava o contágio. Em um dia, estavam ativos, trabalhando e, no outro caiam doente e/ou morriam. Não era raro companhias inteiras adoecerem e teatros serem fechados, com vários mortos em seus elencos. De coristas a primeiros atores, a Gripe Espanhola vitimou várias atrizes, atores, jornalistas e demais pessoas ligadas às comunicações ou à cultura. Os piores dias para as perdas do teatro foram 15,16 e 17 de outubro de 1918.
 

Vamos conhecer e homenagear algumas dessas pessoas que muito fizeram por nossa cultura e foram vitimadas pela pandemia da Gripe Espanhola.





BEATRIZ MARTINS


BEATRIZ MARTINS
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Beatriz Martins nasceu em 15 de junho em Portugal, não sabemos o ano.
 
Estreando como atriz em Lisboa, veio ao Brasil e não mais retornou à sua terra natal. Em nosso país, Beatriz Martins era uma atriz dedicada, estimada por suas colegas e admirada pelo público. Era casada com o jornalista Robespierre Trovão.
 
Em maio de 1918, ela se submeteu à uma cirurgia de apendicite, regressando entre os dias 11 e 12 desse mês para sua residência.
 
Atuando no Teatro de Revista, em comédias e operetas, Beatriz Martins estava em plena atividade quando adoeceu em meados de outubro de 1918. Ela faleceria em 17 de outubro de 1918, uma quinta-feira, poucos dias antes de seu esposo. Este, já enfermo, teve o abalo psicológico de ver o corpo de sua esposa ficar insepulto por dois dias, muito provavelmente pelo grande número de mortes e poucos coveiros para sepultarem as vítimas.
 
A imprensa, antes de seu desaparecimento, comentava com entusiasmo sobre a festa artística que Beatriz Martins apresentaria no dia 29 de outubro de 1918, no Theatro São José, com apresentação da opereta A Sertaneja, de Viriato Correia e música de Chiquinha Gonzaga.


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BEATRIZ MARTINS
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ROBESPIERRE TROVÃO
 

ROBESPIERRE TROVÃO
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Robespierre Trovão era jornalista e casado com a atriz Beatriz Martins.
 
Trabalhou por vários anos na imprensa carioca, em jornais como Gazeta de Notícias e Notícia, sendo muito estimado por seus companheiros.
 
Apaixonado por teatro, atuou como secretário da Companhia do Theatro São José, admitido pela Empresa Paschoal Segreto, dona do teatro, onde ficou vários anos.
 
Estava nesse posto quando faleceu em 23 de outubro de 1918, uma quarta-feira, poucos dias depois de sua esposa.
 
Também colaborava com o Jornal de Theatro e Sport.


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O Paiz, quinta-feira, 24 de outubro de 1918, p.05
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LUIZA LOPES
 
Luiza Lopes era corista da Companhia do Theatro São José, estando nessa companhia desde sua fundação, em 1911.
 
Segundo a imprensa da época, era uma artista muito requisitada, embora não sendo uma estrela, era muito disciplinada e estimada no meio teatral.
 
Sendo utilizada em vários pequenos papeis, Luiza Lopes sempre conseguia se sobressair em papeis caricatos, sempre agrando ao público.
 
Sua morte provocou profunda consternação no elenco do Theatro São José.

 
A Epoca, terça-feira, 15 de outubro de 1918, p.03
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Jornal de Theatro & Sport nº208, 02 de novembro de 1918, p.09
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JOÃO CARVALHO


JOÃO CARVALHO
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O ator João Carvalho era um nome veterano nos palcos, tendo atuado na Companhia Antônio de Souza, no Theatro São Pedro, figurando em revistas em cujos papeis ele se empenhava com muito cuidado e dedicação. Chegou a excursionar pelo Norte do País.
 
Era casado com a atriz Luiza Nazareth e pai da menina Zilka, de um ano e meio quando ele faleceu. Ele e Luiza (filha do ator Nazareth) passaram a lua de mel se apresentando em uma tournée.Décadas depois, Zilka também se tornaria atriz, adotando o sobrenome do marido, o ator Mário Salaberry. Zilka Salaberry seria a mais famosa Dona Benta de O Sítio do Pica Pau Amarelo.
 
João Carvalho faleceu em 15 de outubro de 1918, uma terça-feira.


Jornal de Theatro & Sport nº208, 02 de novembro de 1918, p.09
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VIRGÍNIA AÇO


Jornal de Theatro & Sport, 1918
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A atriz e cantora Virgínia Aço era bastante querida pelo público do Brasil e de Portugal.
 
Virgínia Aço nasceu em Portugal, na vila Almada do Ribatejo, em 27 de fevereiro de 1891, vindo de uma família de artistas.
 
Aos dez anos de idade estreou no Theatro Infante, em Lisboa, na Companhia Infantil de José S. Libório. Passou a trabalhar no Teatro de Revista em 1909, no Theatro da Rua dos Condes, em Portugal. Sua estreia nas revistas aconteceu em O Cacharolete.
 
Contratada por Leopoldo Fróes, que logo admirou seus dotes vocais, Virgínia Aço aparecia como segunda figura da companhia, a primeira era a atriz Rentini. Apresentou-se em A Viúva Alegre, Sonho de Valsa e A Mascotte.
 
Em novembro de 1911, foi contratada pela Empresa Paschoal Segreto, trabalhando no Rio de Janeiro no Pavilhão Internacional.
A crítica carioca a considerava “a melhor soprano da opereta portuguesa”.
 
Participou de várias peças e companhias tendo gravado um disco em 1913, ao lado de Antônio Santana, com as músicas Fado Rufia e Valsa dos Apaches.
 
Virgínia Aço faleceu em uma quarta-feira, 16 de outubro de 1918, às 14:30 da tarde, sendo sepultada no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.
 
Ela deixou sua mãe, Dona Joanna, aqui no Brasil, aparentemente, sozinha. Desconhecidos e estrelas, como a atriz Abigail Maia se solidarizaram em sua causa, angariando fundos para que a mãe da atriz pudesse retornar a Portugal, onde tinha parentes para lhe assistir.

Para ouvir mais gravações de Virgínia Aço, https://arquivosonoro.museudofado.pt/interprete/557/virginia-aco



FADO RUFIA
Fado de A. Arriaga
Gravado por Virgínia Aço e Antônio Santana
Acompanhamento de Orquestra
Disco Odeon Record 120.571
Lançado em 1913


 
VALSA DOS APACHES
Valsa
Gravada por Virgínia Aço e Antônio Santana
Acompanhamento de Orquestra
Disco Odeon Record 120.572
Lançado em 1913



Revista da Semana, 15 de julho de 1916, nº23
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O Paiz, quinta-feira, 17 de outubro de 1918, p.05
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Jornal de Theatro & Sport 1918, 02 de novembro de 1918, p.07
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A Noite, 05 de setembro de 1919, p.05
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Jornal das Moças, 19 de junho de 1919, nº209, p.21
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OLYMPIO NOGUEIRA


OLYNPIO NOGUEIRA
Almanaque d´O Theatro 1907
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Uma das mortes mais sentidas foi a do ator Olympio Nogueira, um dos grandes nomes de nosso teatro nas duas primeiras décadas do século XX.
 
Olympio Nogueira nasceu no Rio de Janeiro, em 22 de junho de 1878.
 
Estreou como ator em 1890, no interior, interpretando o filho do sargento Guilherme no drama Os Dois Sargentos. Aos doze anos de idade ele interpretaria um papel de menina no drama do ator Vasquez, Lágrimas de Maria.
 
Na Companhia da atriz Anna Chaves, percorreu o Estado de São Paulo interpretando, com habilidade, papeis de galã.
 
Passou a atuar na empresa de Moreira de Vasconcellos, interpretando papeis de maior responsabilidade, desligando-se dessa companhia na Bahia. Ao lado da família, percorreu o interior desse Estado, voltando ao Rio de Janeiro.
 
Na Companhia Dias Braga começou a fazer pequenos papeis, lapidando seu talento. Já mais experiente, interpretou papeis importantes como o tabelião, de Roda da Fortuna; Julot, de Bexigosa; e seu maior desempenho, Jesus Christo, em O Martyr do Calvário. Foi considerado o mais convincente Jesus do teatro, em seu tempo, papel que desempenhou por vários anos.
 
Entre 1904 e 1907 gravou vários discos, alguns solos e outros em parceria com colegas como Medina de Souza, deixando clássicos gravados como Corta Jaca, com letra de Machado Careca e melodia de Chiquinha Gonzaga.
 
Era muito estimado e respeitado pelos colegas e pelo público.
 
Olympio Nogueira faleceu em um sábado, 19 de outubro de 1918.


O ZÉ DA LYRA
Gravado por Olympio Nogueira
Disco Odeon Record 10.042
Lançado em 1904
Obs. Da Revista “O Avança”


 
MAXIXE ARISTOCRÁTICO


Maxixe de José Nunes
Gravado por Olympio Nogueira e Medina de Souza
Acompanhamento de Orquestra
Disco Victor Record 98.796
Lançado em 1909


 
MATUTO


Toada Sertaneja de José Nunes
Gravada por Olympio Nogueira
Disco Victor Record 98.826
Lançado em 1909



 
O VENDEIRO E A MULATA


De Nicolino Milano
Gravado por Medina de Souza e Olympio Nogueira
Disco Victor Record 98.879
Lançado em 1909


 
CORTA JACA
Tango de Chiquinha Gonzaga, letra do ator Machado Careca
Gravada por Olympio Nogueira e Medina de Souza
Disco Victor Record 99.713
Lançado em 1910




Jornal de Theatro & Sport nº208, 02 de novembro de 1918, capa
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O Paiz, domingo, 20 de outubro de 1918, p.04
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Correio da Manhã, domingo, 20 de outubro de 1918, p.01
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Correio da Manhã, quarta-feira, 23 de outubro de 1918, p.06
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JOSÉ GONÇALVES LEONARDO


JOSÉ GONÇALVES LEONARDO
Almanack dos Theatros, 1909
Cedoc-Funarte


 
José Gonçalves Leonardo foi um conhecido ator que fez sucesso no final do século XIX e início do século XX.
 
Nasceu no Rio de Janeiro em 16 de julho de 1860, destacando-se no Teatro de Revista.
 
Um de seus grandes êxitos era a cançoneta Fandanguassú, de Augusto Fábregas. No teatro, interpretou várias vezes, com muito agrado, o Seu Ozébio, de A Capital Federal, de Arthur Azevedo.
 
Gravou alguns discos em 1907, inclusive o sucesso Fandanguassú.
 
Morando em São Paulo, era casado com a atriz Annita Campilli.
 

José Gonçalves Leonardo faleceu em São Paulo, em 24 de outubro de 1918, uma quinta-feira, vitimado pela Gripe Espanhola, aos 68 anos de idade.





SEU ANASTÁCIO

https://discografiabrasileira.com.br/

Tango de Candinho
Gravado por José Gonçalves Leonardo
Acompanhamento de Orquestra
Disco Victor Record 98.719
Gravado em 01 de novembro de 1907 e lançado em 1907


 
O MULATO DE ARRELIA

https://discografiabrasileira.com.br/

Cake Walk
Gravado por José Gonçalves Leonardo
Acompanhamento de Orquestra
Disco Victor Record 98.720
Gravado em 01 de novembro de 1907 e lançado em 1907


 
O VERDADEIRO FANDANGUASSÚ


https://discografiabrasileira.com.br/

Tango de Leopoldo Silva
Gravado por José Gonçalves Leonardo
Acompanhamento de Orquestra
Disco Victor Record 98.800
Gravado em 01 de novembro de 1907 e lançado em 1907





Revista da Semana, 1905
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Careta, 1909
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Correio Paulistano, quarta-feira, 25 de dezembro de 1918
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Correio da Manhã, sexta-feira, 27 de dezembro de 1918, p.04
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RECORTES SOBRE OS ARTISTAS



A Epoca, terça-feira, 15 de outubro de 1918
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A Noite, 18 de outubro de 1918
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A Epoca, domingo, 03 de novembro de 1918
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O Paiz, segunda-feira, 04 de novembro de 1918
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A Noite, 11 de novembro de 1918
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Jornal de Theatro & Sport nº208, 02 de novembro de 1918
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Jornal de Theatro & Sport nº208, 02 de novembro de 1918
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Palcos e Telas, outubro de 1918
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 Jornal de Theatro & Sport, 1918
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Agradecimento ao Arquivo Nirez











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