domingo, 22 de outubro de 2023

RELEMBRANDO ARTHUR AZEVEDO

 
ARTHUR AZEVEDO




Um dos grandes nomes de nosso Teatro de Revista foi ARTHUR AZEVEDO.
Ele ajudou a consolidar esse gênero teatral em nosso país a partir do começo da década de 1880, destacando-se também em outros estilos.            


Arthur Nabantino Gonçalves de Azevedo nasceu em São Luís (MA), em 07 de julho de 1855. Era filho de Emília Branco (alguns biógrafos, segundo J. Galante de Sousa, informavam ser Emília Amália Magalhães de Azevedo) e do cônsul português no Maranhão, Davi Gonçalves de Azevedo. Era irmão do futuro escritor e diplomata brasileiro, Aluísio Azevedo, e do futuro teatrólogo Américo Azevedo.



D. Emília Azevedo, Aluísio Azevedo (esq.)
e Arthir Azevedo( dir.) com quinze anos.
Cedoc/Funarte



Aluísio Azevedo


 
Arthur Azevedo começou a trabalhar como caixeiro aos 13 anos, em uma casa comercial em São Luís. Entre 1870 e 1873, trabalhou na Secretaria do Governo, também em sua província natal. Em setembro de 1873, passou a morar no Rio de Janeiro, trabalhando como mestre de meninos no Colégio Pinheiro e, depois, como revisor do jornal A Reforma, emprego que conseguiu com a ajuda de seu conterrâneo Joaquim Serra.
 
Em 1875, Arthur Azevedo foi nomeado adido no Ministério da Viação e, depois, amanuense (escrevente), fazendo aí uma carreira paralela à artística, chegando a diretor geral da contabilidade, em 1908, substituindo Machado de Assis, que faleceu nesse ano.
 
Ele colaborou em muitos jornais, tendo lançado ainda no Maranhão O Domingo (1872 – 1873). No Rio de Janeiro, lançou A Gazetinha, O Álbum, entre outros periódicos. Sua colaboração se estendeu à Vida Fluminense, Kosmos, Diário de Notícias, O Paiz, e muitos outros jornais e revistas.
 
Seria no Teatro que Arthur Azevedo se consagraria com um dos mais importantes dramaturgos brasileiros.
 
O gênero Revista (Teatro de Revista) chegou ao Brasil em 1859, vindo de Portugal, que o havia adquirido via França. A primeira peça de revista em nosso país era intitulada As Surpresas do Senhor José da Piedade, de Justino de Figueiredo Novais, estreada em 09 de janeiro de 1859, no Theatro Ginásio, no Rio de Janeiro. Com um hiato de dezesseis anos, a segunda revista que nossos palcos exibiriam só estrearia em 01 de dezembro de 1875, Revista do Ano de 1874, de Joaquim Serra, que revisava os principais acontecimentos do ano de 1874.
 
O Teatro de Revista ia, timidamente, marcando presença em nosso país. Em 1878, por encomenda do ator José Antônio do Vale, Arthur Azevedo escreve com Lino d´Assunção a revista O Rio de Janeiro em 1877, estreada em 16 de janeiro de 1878. Em 1880, Arthur Azevedo escreveu com França Júnior, Tal Qual como Lá.
 
Ele viajou para a Europa em 1882, visitando Paris e Madrid e observando o que se fazia nessas cidades em termos de teatro. Quando retornou ao Brasil, nesse mesmo ano, convidou o cronista Moreira Sampaio para escrever uma revista. Juntos, escreveram a revista cômica para o ano de 1883, O Mandarim, que marcaria o início de uma parceria vitoriosa e fixaria o gênero revista em nosso país, devido ao sucesso da peça, que foi lançada no Theatro Príncipe Imperial, em 09 de janeiro de 1884.



MOREIRA SAMPAIO




Cartaz de O Mandarim, Gazeta de Notícias, 11 de janeiro de 1884, p.04
http://memoria.bn.br/



Vieram outras peças, como Cocota (1885), onde o Filipe de Lima cantou o lundu Xô Araruna e, ao final do espetáculo, havia uma homenagem às províncias abolicionistas do Ceará, Amazonas e Rio Grande do Sul. Em O Bilontra (1886), a dupla Azevedo-Sampaio abordou de forma bem-humorada um caso real de estelionatário ocorrido em 1884, quando um malandro vendeu um falso título de barão a um comerciante português. O título, Bilontra, significava, na época, pilantra, malandro. E cada fato, acontecimento social, político ou cultural que chamasse a atenção, virava tema para o Teatro de Revista, e Arthur Azevedo saberia muito bem explorar esses acontecimentos.
 
Um bom exemplo disso é o caso da Sabina das laranjas. Em 1889, um ex-escrava chamada Sabina, tinha um tabuleiro de laranjas em frente à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Lá era o ponto de encontro dos estudantes, em sua maioria, republicanos. Um dia, no local, eles vaiaram uma carruagem de um político do Império; mas, que se deu mal foi a pobre Sabina. O delegado da região confiscou seu tabuleiro, alegando ser um lugar subversivo. A atitude gerou revolta e, no dia 25 de julho de 1889, pela manhã, os estudantes reuniram uma multidão em passeata em favor de Sabina, pelas ruas do Centro da cidade. Ela teria de volta seu tabuleiro, no mesmo local, e o delegado seria afastado do cargo, dada a grande repercussão do caso. Você podem conferir essa história aqui.
 
Após esse fato, que ficou conhecido em toda a cidade, Arthur Azevedo fez um quadro especial para a revista A República, escrita por Arthur e seu irmão, Aluísio Azevedo. Estreada no Theatro Variedades Dramáticas, em 26 de março de 1890, quando o Brasil já era República, a parte mais famosa da peça era quando a atriz Ana Manarezzi, vestida de baiana, cantava o lundu de Arthur Azevedo, As Laranjas da Sabina. A música foi um dos maiores sucessos do final do século XIX, sendo gravada no início e no final do século XX. Ana Manarezzi foi uma das primeiras atrizes a se vestir de baiana em nosso país, ao lado da atriz Aurélia Delorme.


Cartaz de A República,
O Paiz, 28 de março de 1890, p.04
http://memoria.bn.br/


 
As peças de Teatro de Revista iam estreando e Arthur Azevedo, ao passo que escrevia revistas, também escrevia outros gêneros como comédias e burletas. Um exemplo é a peça O Tribofe, escrita somente por ele. Essa burleta seria uma pequena obra prima, como lembrou Salvyano Cavalcanti de Paiva, e que serviria de base para uma grande obra prima escrita também por ele e estreada cinco anos depois, A Capital Federal.
 
Em O Tribofe, estreada em 16 de junho de 1892, no Theatro Apolo do Rio de Janeiro, trazia um elenco de destaque: Aurélia Delorme, Isabel Porto, Jeanne Kaylus, Ana Manarezzi, Machado Careca, Correia Vasques... Já em A Capital Federal, estreada em 09 de fevereiro de 1897 no Theatro Recreio Dramático, trazia Pepa Ruiz, Clélia de Araújo, Olympia Amoedo, Estefânia Louro, Colás, Leonardo, Brandão Soares, entre outros. A música era do maestro e compositor Nicolino Milano e algumas delas foram gravadas no começo do século XX.



Cartaz de O Tribofe , Gazeta de Notícias, 20 de junho de 1892
http://memoria.bn.br/




Cartaz de A Capital Federal, O Paiz, 10 de fevereiro de 1897, p.08
http://memoria.bn.br/


 
Arthur Azevedo seguiria escrevendo várias peças e colecionando grandes êxitos.
 
Casou-se duas vezes. Em primeiras núpcias com Carlota de Morais, e, em segunda núpcias com Carolina Adelaide Leconflé.


Arthur Azevedo e sua esposa, Carolina Leconflé,
atrás, a enteada de Arthur Azevedo, Sra. José Calmon.
Fotografia de 1902.
Fon Fon, 1913
http://memoria.bn.br/


 
Em 1908, dirigiu a companhia dramática que se apresentou no teatro construído onde havia a Exposição Nacional, na Praia Vermelha.
 
Arthur Azevedo foi um dos grandes incentivadores da construção do Theatro Municipal do Rio de Janeiro que, infelizmente, não pode ver sua inauguração (em 1909), pois faleceria em 22 de outubro de 1908, no Rio de Janeiro.


O Malho, 1908
http://memoria.bn.br/


 
 
Falar sobre Arthur Azevedo é, ao mesmo tempo, falar sobre uma parte importante da história de nosso Teatro. Ele foi um homem que se dedicou totalmente ao teatro e à cultura, produzindo várias peças de sucesso e escrevendo crônicas. O Teatro de Revista em nosso país, foi um gênero que atravessou décadas, se reinventando, adaptando, abrasileirando, sempre lançando peças, compositores, músicas e artistas amados pelo público e que, ainda hoje, fascina a todos que o conhece. Uma grande parte de todo esse sucesso, deve-se a Arthur Azevedo.



Vamos conferir algumas gravações do repertório de algumas peças de Arthur Azevedo.




A REPÚBLICA
 
Nessa revista de 1890, a atriz Ana Manarezzi cantou e dançou o lundu As Laranjas da Sabina, de Arthur Azevedo.

 
AS LARANJAS DA SABINA

https://discografiabrasileira.com.br/

Lundu de Arthur Azevedo
Gravado por Pepa Delgado
Acompanhamento de Piano
Disco Odeon Record 40.350, matriz RX-452
Lançado em 1906


 
 

 
A CAPITAL FEDERAL

A famosa burleta de Arthur Azevedo, lançada em 1897, trazia várias músicas interessantes. Encontramos a gravação de Tango do Lourenço, A Capital Federal e O Fazendeiro. As duas primeiras foram gravadas com o título de Capital Federal.
 

 
A CAPITAL FEDERAL
(TANGO DO LOURENÇO)

https://discografiabrasileira.com.br/

Tango de Arthur Azevedo e Nicolino Milano
Gravado por Júlia Martins e João Barros
Acompanhamento de Orquestra
Disco Victor Record 98.908
Gravado em 01 de novembro de 1907 e lançado em 1907




 
MAXIXE DA CAPITAL FEDERAL
(TANGO DO LOURENÇO)
Maxixe de Arthur Azevedo e Nicolino Milano
Gravado por Jorge Bastos
Acompanhamento de Piano
Disco Homokord Record 9286, matriz 14512A
 
 


CAPITAL FEDERAL

https://discografiabrasileira.com.br/

Canção de Arthur Azevedo e Nicolino Milano
Gravada por Geraldo Magalhães
Acompanhamento de Piano
Disco Odeon Record 40.602
Lançado em 1906





 
 
O FAZENDEIRO

https://discografiabrasileira.com.br/

Lundu de Arthur Azevedo e Nicolino Milano
Gravado por Mário Pinheiro
Acompanhamento de Piano
Disco Odeon Record 40.581
Lançado em 1906





 
O FAZENDEIRO

https://discografiabrasileira.com.br/

Lundu de Arthur Azevedo e Nicolino Milano
Gravado por Mário Pinheiro
Acompanhamento de violão
Disco Victor Record 99.738, matriz C9270
Gravado em 01 de julho de 1910 e lançado em 1910
















Agradecimento ao Arquivo Nirez










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